“Nenhum estado é tão permanente como o da mudança”
Existe um ditado que diz que “nenhum estado é tão permanente como o da mudança”. Isso tem sido uma verdade absoluta em minha vida (tanto pessoal, quanto profissional). Sai da casa dos meus pais com dezoito anos para fazer faculdade de Ciência da Computação em São José do Rio Preto, SP, cidade 120 km distante de Fernandópolis, onde nasci, cresci e vivia até então. Minha primeira grande mudança ocorreu aqui.
Quatro anos depois concluí meu minha gradução e graças a alguns estudos de iniciação científica que havia desenvolvido durante aquele período, durante um congresso, fui convidado por um professor da USP que havia lido um dos papers que eu havia escrito por conta de um dos trabalhos de iniciação científica que mencionei há pouco. Como eu já trabalhava como desenvolvedor desde o início do último ano de minha faculdade e ainda, como a USP mais próxima era na cidade de São Carlos, SP, tive fazer um duplo turno de atividades para conseguir ajustar os horários no trabalho com as horas exigidas de estudo para o mestrado e ainda, viver na rodovia de Rio Preto para São Carlos para assistir as aulas. Outra grande mudança aqui.
Dois anos após isso, concluí meu mestrado em engenharia elétrica. Passei a experimentar então algo completamente novo pra mim: dar aulas em cursos de tecnologia em algumas universidades do interior de São Paulo. Eu estava vivendo em São José do Rio Preto e lecionando em universidades lá e também, em uma cidade próxima – Barretos. Eu passei a dividir meu tempo então entre meu trabalho como desenvolvedor durante o dia e professor universitário a noite. Esta foi outra forte mudança pela qual passei.
Em 2oo8 me casei. Com certeza absoluta foi uma das melhores coisas que fiz na vida, entretanto, é impossível negar que mais uma vez, houve uma grande reviravolta na minha vida. por conta disso.
Algum tempo depois, após prestar e passar em um concurso para me tornar professor titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP), me mudei temporariamente para Barretos, SP, cidade onde este novo centro educacional público estava localizado e para a qual fui aprovado no concurso. Deixei a empresa onde atuava como desenvolvedor já há alguns anos e também, me mudei de cidade. Outra mudança considerável ocorreu aqui.
Seis meses depois de assumir a cadeira de linguagens de programação e bancos de dados relacionais no IFSP, fui convidado pela Microsoft Brasil para integrar um time chamado de “especialistas técnicos” em São Paulo. Minha atribuição primária seria trabalhar de maneira aproximada dos hosters brasileiros para garantir que os ambientes onde as aplicações da stack Microsoft eram executadas, estivessem configurados de maneira otimizada. Seguindo um sonho antigo de trabalhar em uma empresa multinacional como a Microsoft, pedi exoneração (eu sei, para alguns isso pode soar como uma maluquice, mas…) junto ao IFSP e fui para São Paulo correr atrás deste sonho. Mais uma mudança bem grande estava acontecendo.
Um ano depois decidi empreender de volta no interior de São Paulo. Reuni expertises que havia desenvolvido nos últimos anos (desenvolvimento web + cloud computing + educação) e junto com minha esposa, criamos a Conio Soluções em Tecnologia. Trabalhamos em alguns projetos de migração para Azure que nos encheu de orgulho como empresa, entretanto, nosso maior fruto aqui foi o desenvolvimento de uma ferramenta para instituições de ensino com uma proposta completamente nova: personalizar a avaliação dos alunos. Chamamos esta ferramenta de EducaNet. Este movimento todo gerou, novamente, algumas mudanças consideráveis na minha vida.
Finalmente, após quatro anos a frente da Conio, resolvi aceitar um novo convite feito pela Microsoft Brasil para me tornar Evangelista Técnico focado em Azure. Como você deve imaginar, aceitar essa oferta exigiu bastante esforço de minha parte. Abrir mão do meu próprio negócio, mudar novamente para São Paulo, dentre tantas outras coisas. Mas, como nenhum estado é tão permanente como a mudança, resolvi aceitar o novo desafio e aqui estou, já há mais de dois anos. Escrevi um post sobre como é ser evangelista na Microsoft. Este post está disponível neste link.
Um novo ciclo iniciando
Aqueles que são mais próximos a mim sabem de um desejo antigo que tenho de morar fora do Brasil e de adicionar a minha carreira, a vivência profissional de um mercado mais forte e maduro. Acredito fortemente que este tipo de experiência pode agregar muito na vida de uma pessoa, tanto em aspectos pessoais (conhecer pessoas com culturas diferentes, absorver novos modos de vida, etc.) quanto profissionais (de forma geral, mercados mais maduros apresentam projetos e desafios técnicos de maior escala). Essa ideia sempre ficou viva em minha cabeça, ainda mais sabendo que esta prática (movimentação de profissionais para outros países) é comum na Microsoft.
Há algumas semanas fui convidado para participar de um processo seletivo interno para uma posição de Cloud Solution Architect (CSA) de Americas na Microsoft Corp. Esta posição estava aberta para Fort Lauderdale, na Florida. Após me familiarizar com a posição (lendo a descrição da mesma e falar com alguns amigos CSAs no Brasil) e principais entregáveis associados a ela, resolvi aceitar, de maneira descompromissada, participar do processo seletivo. Recentemente, após passar por algumas entrevistas técnicas (e também sobre mercado) bem pesadas, recebi a notícia de que havia sido aprovado. Recebi então uma oferta formal de trabalho (de agora meu novo time). Analisamos (minha esposa e eu) a oferta recebida e, poucas horas depois, aceitamos este novo desafio.
Esta será, sem a menor sombra de dúvida, a maior e mais complexa mudança que já fiz na vida, até porque, envolve a mudança de minha esposa também. O que está a frente é uma mudança de país, de posição, de cultura e tudo o mais associado a isso. É impossível negar o “frio na barriga” por conta disso, entretanto, maior que este sentimento é aquele de satisfação por estar embarcando em um novo desafio (isso é algo que realmente me motiva) e ao mesmo tempo, por estar alcançando um objetivo profissional.
O que faz um Cloud Solution Architect (CSA)?
Se você acompanha o mercado de tecnologia de perto (se não o faz, deveria fazer) já deve ter percebido que a natureza das posições técnicas nas empresas tem sido diretamente impactadas pela utilização definitiva das plataformas de nuvem pública como ambientes primários de host de aplicações. Quando digo impactadas, quero dizer na verdade que muitas posições novas estão sendo criadas, algumas existentes estão tendo seu modelo operacional ajustados e outras, estão lentamente desaparecendo. Isso é normal no mercado, dado que os processos comumente mudam com a chegada de novas tecnologias, metodologias e modelos de trabalho inovadores.
A posição de CSA é um exemplo clássico quando falamos sobre essas “novas” posições nas quais as empresas (tanto as provedoras de nuvem quanto as consumidoras dela) vem investindo pesadamente. Isso porque é ele (CSA) o profissional que vem sendo responsável por pensar (e em alguns casos até executar) como aplicações modernas devem ser distribuídas e se comportar ao longo dos diversos serviços de nuvem disponíveis nas plataformas.
Para exemplificar, pense em uma loja virtual com muitos acessos simultâneos. Em um modelo antigo de hospedagem/deploy, basicamente o que se fazia no sentido de ter um ambiente robusto para ela era alocar máquinas físicas ou virtuais com bastante capacidade de memória, processamento e disco para rodar os componentes dessa aplicação. Muito embora infelizmente isso ainda seja uma realidade para alguns cenários de nuvem publica, hoje, com a ampla gama de serviços especializados de alto nível, essa arquitetura poderia/seria completamente diferente. Provavelmente, serviços como cache, storage, containers, filas, dentre outros, seriam alocados para colaborar para um ambiente robusto para esta loja virtual. De maneira geral, seria responsabilidade do CSA pensar em como todos esses serviços poderiam/deveriam trabalhar em conjunto de maneira a prover alta disponibilidade e escalabilidade para a aplicação.
Muito embora a descrição anterior mostre a forma de operação básica de um CSA, isso pode mudar ligeiramente de uma empresa para outra. Provedoras de nuvem (como a Microsoft, por exemplo) utilizam CSAs como arquitetos que ajudam clientes e parceiros a distribuirem soluções na nuvem da melhor maneira possível, conciliando escalabilidade, alta disponibilidade, performance e custo. CSAs em empresas que consomem serviços de nuvem publica trabalham, de maneira geral, mais focados em implementações de arquiteturas distribuídas de soluções internas.
Além disso, de maneira geral, CSAs são responsáveis por guiar conversas técnicas em nível mais alto com C-levels. Não é incomum que um CSA esteja responsável por mostrar os impactos positivos no negócio gerados por uma solução técnica implementada da maneira correta ou mesmo, os impactos negativos nos negócios causados por uma implementação mal feita.
Não há uma regra geral quanto as atribuições de CSA. As atividades podem variar muito de uma empresa para outra de acordo com os objetivos da mesma, entretanto, este é o panorama geral da posição (especialmente olhando pelo prisma da Microsoft) e é isso o que farei no meu dia-a-dia daqui por diante.
Quais são os skills necessários para se tornar um CSA?
Analisando o conjunto de atividades desenvolvidas por um CSA, fica fácil identificar os skills necessários a um profissional para que ele possa desempenhar um bom papel nesta posição. Se você está lendo este texto e gostaria de num futuro próximo se tornar um CSA, ao meu ver são estes os “músculos” que você precisa ter desenvolvidos:
- Conhecimento técnico apurado dos conceitos de nuvem.
- Conhecimento aprofundado dos serviços de nuvem da(s) plataforma(s) com a(s) qual(is) ele irá trabalhar diariamente.
- Possuir conhecimentos apurados de padrões de arquitetura e enterprise architecture.
- Ser (ou ter sido) um bom desenvolvedor de software ou ser (ou ter sido) um bom IT pro.
- Conhecer profundamente os conceitos relacionados a comunicação através de redes de computadores (especialmente protocolos TCP, HTTP, DNS, dentre outros).
- Conhecimentos sobre segurança de redes e computadores.
- Experiência com deployment de aplicações complexas.
- Sólidos conhecimentos sobre aplicações distribuídas.
- Conhecimentos sobre serviços cognitivos (IA).
- Comunicar-se de maneira efetiva (seja falando ou escrevendo).
- Ler/escrever bem em inglês.
- Ter experimentado, ainda que em nível básico, desafios de negócios.
- Se você for trabalhar em uma indústria específica (por exemplo, “Saúde”), é fundamental conhecer ainda que em nível básico a mesma.
Existem alguns outros aspectos que poderiam ser citados aqui, entretanto, julgo que foram esses os mais relevantes para que eu pudesse ter sucesso no processo seletivo pelo qual fui submetido para me tornar um CSA.
Preciso agradecer
Durante estes pouco mais de dois anos em que estive na Microsoft Brasil tive a oportunidade de aprender muito, fazer novos amigos e de quebra, evoluir como pessoa. Muitas pessoas foram diretamente ou indiretamente responsáveis por isso. Não quero cometer a injustiça e esquecer alguém neste agradecimento formal. Dessa maneira, se você interagiu direta ou indiretamente comigo durante este período em que estive por aqui, receba o meu mais sincero obrigado.
Quanto ao time de TEs (Technical Evangelists), só agradecimentos também. Aprendi (e como aprendi) muito com cada um de vocês, fiz alguns amigos (esses vou levar pra vida toda) e tenho certeza que estou saindo um profissional muito melhor do que quando entrei. Espero ter podido contribuir de alguma maneira com o time também.
O que está por vir quanto a este site?
Como novos desafios estão por vir, provavelmente muitos dos posts futuros aqui no blog estarão, de alguma maneira, associados com isso (aprendizados com projetos, visões diferentes sobre o mercado de cloud e aplicações, etc.). Nada mudará em relação a geração de conteúdos neste blog. Muito pelo contrário. Pretendo continuar postando regularmente aqui sobre assuntos técnicos e de carreira, como já é comum por aqui. Espero que você continue me acompanhando.
Um forte abraço e até a próxima.
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